sexta-feira, 15 de julho de 2011

A Importância do Ato de Ler.


No Brasil ainda persiste a ideia de que saber ler é saber a descodificação pura e simplesmente da palavra escrita ou da linguagem escrita, o que é um equivoco porque saber ler é acima de tudo além de descodificar as palavrasou as linguagens escritas é saber interpretar e produzir textos com total domínio e entendimento sobre o assunto lido.
Uma pessoa que apenas lê, mas não é capaz de explicar ou escrever sobre o material lido é um analfabeto funcional, é uma pessoa que não tem a capacidade infelizmente de ler plenamente o mundo ao seu redor, é alguém que vota, mas não entende o discurso dos políticos, que lê uma bula de remédio e não percebe as informações necessárias ao paciente, enfim é uma pessoa fácil de ser dominada porque ao tomar conhecimento das leis é incapaz de interpretá-las e consequentemente de reivindicar os seus direitos.
É na escola que a criança aprende a ler e escrever, mas nem sempre a instituição escolar desenvolve no(a) educando(a) o senso crítico e na maioria das vezes esse(a) educando(a) se torna um(a) adulto(a) desconhecedor(a) dos seus direitos e deveres, portanto saber ler é desenvolver o senso crítico que nos permite reivindicar, descordar, criticar e argumentar nos tornando cidadão(ã)s pleno(a)s conhecedore(a)s dos nossos direitos e deveres capazes de lutar contra regimes ditatoriais e tiranos, políticos demagogos e currículos preconceituosos e excludentes.
Quando li o livro A Importância do Ato de Ler de Paulo Freire percebi o quanto a prática pedagógica é política, pois ao ler sobre a população de São Tomé e Príncipe percebi que mesmo antes de saber ler as pessoas já eram capazes de analisar o mundo ao seu redor e tomar decisões porque eram constantemente incentivadas pela educação que lhes era oferecida, logo o senso crítico foi desenvolvido à medida que a população ia aprendendo a ler as palavras e o mundo ao seu redor mesmo que fosse uma analise a partir de um quadro na parede.   
Entre as inúmeras recordações que guardo da prática dos debates nos Círculos de Cultura de São Tomé, gostaria de referir-me agora a uma que me toca de modo especial. Visitávamos  um Círculo numa pequena comunidade pesqueira chamada Monte Mário. Tinha-se como geradora a palavra bonito, nome de um peixe, e como codificação um desenho expressivo do povoado, com sua vegetação, as suas casas típicas, com barcos de pesca ao mar e um pescador com um bonito à mão. O grupo de alfabetizandos olhava em silêncio a codificação. Em certo momento, quatro entre eles se levantaram, como se tivessem combinado, e se dirigiram até a parede em que estava fixada a codificação (o desenho do povoado). Observaram a codificação de perto, atentamente. Depois, dirigiram-se à janela da sala onde estávamos. Olharam o mundo lá fora. Entreolharam-se, olhos vivos, quase surpresos, e, olhando mais uma vez a codificação, disseram: É Monte Mário. Monte Mário é assim e não sabíamos". Através da codificação, aqueles quatro participantes do Círculo "tomavam distância" do seu o mundo e o re-conheciam. Em certo sentido, era como se estivessem "emergindo" do seu mundo, "saído" dele, para melhor conhecê-lo. No Círculo de Cultura, naquela tarde, estavam tendo uma experiência diferente: "rompiam" a sua "intimidade" estreita com Monte Mário e punham-se diante do pequeno mundo da sua quotidianidade como sujeitos observadores (FREIRE, PAULO. 2009. p 43 / 44).
Ver Freire, Paulo. A Importância do Ato de Ler. São Paulo: Cortez, 2009.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Vincent Willem Van Gogh.

Resenha do filme Sede de Viver do diretor Vincente Minnelli que retrata a vida do artista holandês Vincent Willem Van Gogh, associado ao texto do autor Adolfo Sánches Vázquez “As Ideias Estéticas de Marx”; tradução de Carlos Nelson Coutinho. 2ª edição, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978, páginas 285 a 311. (Disciplina:EDC 314 - Arte - Educação).

O filme começa em 1877 contando o período em que Vincent Willem Van Gogh realiza um serviço religioso em uma vila de mineiros na Bélgica, nesse momento ele buscava seguir a vida religiosa do pai, mas como não tinha vocação foi enviado para essa vila por ser um local inóspito onde as pessoas viviam em situação subumana e o clero tinha interesse em manter um religioso no local, a experiência não obteve êxito porque Van Gogh ao tomar conhecimento da real situação dos moradores da vila se envolve com as pessoas e passa a ajudá-las, a ajuda não é aceita pelo clero porque ele doa tudo que tem ficando numa situação de pobreza extrema, logo com uma aparência ruim fugindo ao padrão de boa aparência que o clero exigia para os seus missionários.  
Nessa vila Van Gogh viveu em condições deploráveis sem dar noticias a família, o que fez com que seu irmão Théo fosse visitá-lo e o levasse de volta a Holanda para que a família pudesse cuidar dele. Junto à família Van Gogh se recupera e se dedica a elaboração de vários desenhos a lápis, mas nesse período ele resolve expressar o seu amor pela prima uma jovem viúva com um filho pequeno, como o seu amor pela prima não foi correspondido ele sofre uma desilusão amorosa e se muda para Paris local onde seu irmão trabalha como negociante de artes.
Em Paris Van Gogh faz contato com diversos artistas impressionistas e conhece Paul Gauguin que se tornou seu melhor amigo, influenciado por Gauguin, ele procura lugares isolados para pintar e se muda para a cidade de Arles, ao sul da França uma região rica em paisagens rurais, algum tempo depois Gauguin influenciado por Théo vai morar com Van Gogh, a situação precária em que viviam e a deterioração mental de Van Gogh faz com que os dois não continuem juntos o que leva Van Gogh a ter uma crise nervosa e num momento de desespero ele corta um padaço da sua orelha esquerda. Théo o seu irmão é avisado por Gauguin e vai em socorro de Van Gogh, que pede ao irmão para ser internado em um manicômio, ele é internado quando parece está se recuparando volta a pintar, mas em uma outra crise nervosa comete suicidio.  Van Gogh morre em uma tarde ensolarada assim como ele pinta em um dos seus quadros “O Ceifeiro nos Trigais Amarelos” como sendo o ceifeiro a morte em um campo amarelo de trigo, não a morte asustadora mas a morte bonita em uma tarde ensolarada, creio que por ser o verão a estação que ele mais gostava porque a natureza expressava cores vibrantes e ele podia sair para pintar ao ar livre em busca da luz.
No capítulo 13, “O Capitalismo e a Arte de Massas” Adolfo Vazquez afirma que: não apenas o homem-massa perde com a pseudo-arte, perde com essa massificação todos os homens, a  arte autêntica, a arte como expressão do especificamente humana, da natureza criadora do homem, estabelecendo entre o homem-massa e a arte verdadeira um diálogo de surdos que não estabelece uma relação apropriada exigida pelo objeto artístico e como consequência a arte verdadeira não pode ser apreciada. Esta surdez ou cegueira faz com que o público prefira os produtos mais inconsistentes do ponto de vista estético ao invés de preferir os que oferecem valores estéticos mais elevados. Dessa forma artistas como Van Gogh que utilizava tons fortes e movimento cuja a arte expressava características que fugiam as exigidas pelo mercado não eram aceitos e por tanto não conseguiam atingir o mercado consumidor.  
A vida do pintor foi marcada por fracassos, para a época em que viveu Van Gogh falhou em todos os aspectos importantes, pois foi incapaz de constituir família, custear a própria subsistência ou até mesmo manter contatos sociais, viveu da mesada que Théo o enviava, pois só vendeu uma das várias obras que fez “O Vinhedo Vermelho”, a época em que ele viveu a sua arte não atendia aos padrões artísticos, Van Gogh pitava com emoção, fazia questão de expressar os seus sentimentos independente de agradar ou não ao mercado consumidor, ele fazia uma arte que não atendia a minoria, a elite nem atendia a maioria , o povo, contrapondo a ideia de Ortega no capítulo 14 O Dilema “Arte de Minorias ou Arte de Massas” quando afirmar que os homens estão divididos em duas ordens ou níveis os egrégios e os vulgares e que a arte seria própria dos egrégios ou seja da minoria, realmente Ortega tinha razão, mas a arte de Van Gogh, não foi aceita porque nesse momento a cegueira e a surdez artística não permitiram a sociedade da época ver o valor artístico das suas obras.
Adolfo Vázquez afirma no capítulo 15 “A Arte Verdadeiramente Popular” que a arte verdadeira é a que não se deixa aprisionar nos limites asfixiantes do dilema tão caro a Ortega y Gasset: ou minorias egrégias ou massas gregárias. Analisando as obras de Van Gogh em relação a sociedade da época em que ele viveu que não sobe perceber o valor artístico de suas obras considerando a afirmativa de Vázquez é possível perceber que a arte expressa por Van Gogh é a verdadeira arte, pois em nenhum momento o artista se deixou influenciar pela sociedade industrial capitaista, sendo fiel ao seu estilo, Van Gogh sustenta a ideológia de que a arte era uma forma de  expressar os seus sentimentos, ideológia que o fez morrer pobre sem ver o seu potencial artistico reconhecido. 

A Casa Amarela - 1888.

Vinhedo Vermelho ou
A Vinha Encarnada - 1888.














Os Girassois - 1889



O Ceifeiro nos Trigais Amarelo.