sexta-feira, 10 de junho de 2011

A Criança Negra nos Currículos da Educação Básica

Apesar de passados mais de cem anos da abolição da escravatura, vivemos hoje em uma sociedade que alimenta o discurso do mito da democracia racial. É Silva (1996) quem contribui conosco nesse debate, quando nos mostra o quão distante estamos de uma democracia racial:
(...) em São Paulo: uma menina de três de idade, negra, teve negada a sua permanência numa escola pré – escolar da rede particular, após quase um mês de aula, porque os pais de outras crianças teriam ameaçado de retirar seus filhos, caso a menina negra permanecesse. (p. 169)
Ao refletir acerca dessas questões, vemos que estamos distantes de viver em um país onde essas diferenças possam

ser discutidas na escola a partir dos currículos, pois, como afirma Silva (1996), não se trata apenas de ser diferente sob o ponto de vista sociológico. Para essa autora, não existe critério algum que seja tão convincente a ponto de sustentar que uma cultura seja melhor que a outra, mas não se pode negar as relações de poder que existem na dinâmica social e que pulverizam essas posições, inclusive a partir dos currículos. “(PRESENÇA PEDAGOGICA, mar. / abr. 2001) 
Sabemos que o currículo é uma ferramenta de sistematização e construção de conhecimento, trata-se portanto, de um documento vivo e capaz de manipular a sociedade para  agir de acordo aos interesses do Estado a exemplo a Ditadura Militar que modificou o currículo escolar, substituindo as disciplinas do pensar como: sociologia e filosofia por disciplinas que doutrinavam os alunos e alunas de acordo com os seus interesses.
Nessa perspectiva, o currículo é constituído de intenções implicando assim, numa relação de poder, cuja finalidade é  transmitir  os interesses da classe dominante.E a escola como um espaço social, que convive com as diversidades, um espaço capaz de promover transformações sociais e apropriado para a construção crítica do conhecimento, necessita de uma (res)significação de sua função social, pois vivenciamos um cenário entristecedor, no qual a escola que deveria contribuir de forma positiva para a mudança da sociedade, acaba contribuindo negativamente no que diz respeito às suas práticas pedagógicas que vem se assentando nas discriminações e segregações, tais como: preconceito racial e social  e homofobia, entre outros.
Portanto, cabe a todos os cidadãos, principalmente a nós futuras educadoras lutarmos por um currículo multicultural que aborde todos os povos, eliminando da nossa sociedade a hegemonia do currículo eurocêntrico carregado de preconceitos que valoriza apenas a cultura branca como sendo superior as demais, desconsiderando as outras matrizes culturais.  
Embora o texto seja de 1996 a abordagem é atual, pois fatos como o que aconteceu com uma menina numa escola em São Paulo e a supremacia do currículo eurocêntrico ainda fazem parte da educação brasileira apesar de racismo ser crime e da existência da Lei 11.645 / 08.
· Em algumas escolas de Salvador os materiais que abordam a Lei 11.645 / 08 ficam guardados em armários porque os profissionais da área de educação se recusam a abordar as matrizes de origem negra e indígena.  
· Em abril de 2011 uma professora preferiu perder a vaga em uma escola municipal de Salvador porque o material que a escola utiliza segue a Lei 11.645 / 08 e ela teria que  aborda a religião de origem africana.